Porto Velho (RO) — A ida do governador de Rondônia, Marcos Rocha (União Brasil), a Israel, realizada sob sigilo e praticamente sem registros oficiais, começa a gerar forte repercussão política e institucional no Estado.
A viagem, que inicialmente só veio a público após o próprio governador compartilhar vídeos e imagens nas redes sociais, carece de informações detalhadas sobre objetivos, custos e resultados, alimentando críticas e cobranças de órgãos de controle.
Sem divulgação prévia de agenda, sem comunicados oficiais à população ou ao parlamento estadual e realizada em um dos períodos mais sensíveis da crise no Oriente Médio, a presença do chefe do Executivo estadual em território israelense surpreendeu tanto aliados quanto adversários.
O episódio mais inusitado ocorreu quando Marcos Rocha precisou ser retirado às pressas para um bunker, após o lançamento de mísseis contra Israel durante sua estada.
A cena, transmitida em tom de aventura nas redes sociais, acabou chamando ainda mais atenção para os bastidores da viagem.
Falta de transparência
O ponto central das críticas gira em torno da ausência de transparência. Até o momento, não foi apresentada qualquer documentação oficial indicando os propósitos institucionais da viagem, quais autoridades israelenses receberam o governador ou que tipo de acordos — se é que existiram — foram debatidos ou firmados.
Também não há informações públicas sobre quem custeou as despesas.
Viagens internacionais de chefes de Executivo costumam envolver diárias, passagens aéreas, hospedagens e segurança, valores que, em tese, deveriam constar nos registros oficiais de despesa pública ou, se bancados por terceiros, deveriam ser claramente declarados.
Além disso, a legislação estadual prevê que deslocamentos internacionais do governador sejam formalmente comunicados à Assembleia Legislativa, o que, segundo parlamentares ouvidos sob reserva, não ocorreu.
Possíveis irregularidades administrativas
Especialistas em direito administrativo alertam que a ausência de comunicação oficial e de prestação de contas pode configurar infração aos princípios constitucionais da administração pública, sobretudo os da legalidade, moralidade e publicidade.
Caso se confirme o uso de recursos públicos sem a devida autorização ou se forem constatadas omissões intencionais nas informações repassadas aos órgãos de controle, o caso pode ser enquadrado como ato de improbidade administrativa.
Em situações similares, o Ministério Público e o Tribunal de Contas do Estado costumam ser acionados para apurar tanto a regularidade do deslocamento quanto eventuais prejuízos ao erário.
Pressão por investigação
Nos bastidores, já há movimentação de setores da sociedade civil e até de parlamentares estaduais pedindo abertura de investigação formal para esclarecer o episódio. Entre os pontos que devem ser apurados estão:
A origem dos recursos utilizados na viagem;
Se houve comunicação ou autorização legislativa;
Quais compromissos oficiais foram firmados ou discutidos;
A eventual existência de acordos comerciais ou políticos não publicizados.
Para membros de órgãos de controle, a investigação deve também verificar se a viagem teve caráter oficial ou particular, uma vez que os registros até agora sugerem uma mistura pouco transparente de agendas.
Silêncio do governo
Procurado, o governo de Rondônia não forneceu explicações detalhadas sobre a viagem.
As únicas manifestações públicas do governador limitaram-se aos vídeos gravados em Israel, destacando momentos de tensão durante o ataque iraniano e algumas imagens em pontos turísticos de Jerusalém.
Enquanto isso, cresce o mal-estar político no Estado. Críticos apontam que, diante dos graves problemas enfrentados por Rondônia — como dificuldades na saúde pública, precariedade nas estradas e crise ambiental — deslocamentos internacionais deveriam ser realizados com total publicidade e respaldo institucional.
Como costuma ocorrer nesses casos, a falta de respostas claras só amplia as especulações.
Agora, caberá aos órgãos de fiscalização aprofundar os fatos e dar à sociedade as respostas que o governo, até aqui, tem evitado.
